quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

. doença da cura .



Retardei por anos, fugi de mim, do tempo, de tudo. Não se pode fugir pra sempre! E o preço inicial foi jogar minha vida fora, com sonhos,amor, trabalho, verdades, crenças ...tudo! Trocas, acordos, rezas, promessas, sim, eu pedi tanto, pedi com uma força que nem sabia que em mim habitava, a caminho da primeira empreitada, pedi que me tirassem daquele corpo, não queria estar nele, e mais uma vez fugi.

Era vermelho, o sangue, exatamente como o de todos, ele até parou, também como o de todos, mas algo não tinha dado certo, era hora de eu voltar de uma vez pra meu veículo nesse mundo, e dirigí-lo, mesmo que desgovernadamente, precisava estar inteiro no que se diz respeito às partes que formam um ser: alma, corpo e coração. Novos preços foram acrescentados, como uma espécie de juros ( indevidos?) era tanto a ser pago, e eu vagava por um momento que parecia não ser o meu, mas era, não tinha mas como não ser, a tempestade tinha ficado ainda mais forte, e era a hora de eu enfrentá-la de peito aberto e sozinho.

Longas noites, solidão, incertezas, vazios... eu estava vivo... e não sabia por quanto tempo, isso me fez pensar que morrer repentinamente,ao menos pra quem vai, talvez seja mais fácil... mas eu estava ali, vivo e tendo que lutar e assumir a responsabilidade do que eu tinha demais precioso em minhas mãos: minha vida. Noites e noites, hemorragias, bactérias de todos os tipos habitavam em mim, brigavam com meu corpo, queriam vencê-lo, um ano inteiro, três cirurgias, 6 meses de internamento, dores e um medo animal e por vezes desumano: a minha cura tinha adoecido,até meus ortopedistas abandonaram o barco, fiquei a deriva. 

Tentava encontrar prazer na subsequência dos dias, deixava o sol tocar minha pele e a luz cegar meus olhos, sentia o cheiro das coisas todas, abraçava mais forte, comia tudo que eu sentia vontade ( e obviamente liberado pelos médicos) transformei minha cama num dancing e muitas vezes dançava no meio das estrelas, pedi um colchonete e coloquei ao meu lado pra que Deus pudesse sempre dormir ali, juntinho. Músicas, livros, blogs, familia, amigos, uma nova familia nos hospitais que morei, passeios em cadeiras sobre rodas, romances relâmpagos e até por 45 dias residi numa bolha azul: nem tudo foi tristeza, e no meio da tempestade, descobri o quanto sou feliz.

Junto com os resultados diários dos exames fiz pedidos, fazia pesquisas de horas e horas com o Dr. Google, minha cabeça ficava ainda mais confusa. Ali completei 33 anos, travando uma via crucis, assim como cristo. Ali também na bolha, que ainda nem tinha cor, me despedi de minha avó (Maria Spinelli), no meio da tempestade foi necessário que ela deixasse essa vida: perdi e ganhei coisas que jamais podereiesquecer, eu estava vivo.

A dor em mim fez morada, a poesia explodia dos meus dedos, uma certa frieza com relação ao mundo aqui fora, como se eu não mais fizesse parte dele. O amor, a solidariedade, os banhos, as leituras, os filmes e cada momento vivido ali dentro com os amigos-irmãos tornara-se inesquecível. A luz acendeu e apagou inúmeras vezes, e num desses crepúsculos, João Marcello ( meu sobrinho-afilhado) resolveu vir ao mundo, e enquanto ele não chegava, esse se tornou meu maior pedido: poder vê-lo. Eu o vi, e hoje ele é minha maior alegria, depois de acordar todos os dias de manhã.

Minha cura ainda está doente, e esta doença me trouxe um ser humano novo e capaz de coisas extraordinárias, muita coisa em mim morreu junto com as bactérias, outras, novas ainda, to aprendendo a sentir e ter como parte integrante da minha alma, tem dias que sinto, e em outros apenas sigo, me sinto livre, vivo e decidido a viver, viver tudo, cada momento, curado ou não, a pior doença mora na alma e na incapacidade de ser.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

.era.



era noite,
entre sons e batidas
enebriados,
luzes piscando,
eram tantos
sorrisos,
beijos, linguas, abraços...
o cheiro do cigarro,
era dia,
travesseiro,
consciência,
vazio,
perguntas sem respostas,
o telefone que não tocava,
nem e-mails,
sem convites...
era verdade
mesmo com muitos,
estamos sozinhos.

maurício spinelli.

domingo, 19 de setembro de 2010

covarde ou flor?




E por medo de sofrer por amor, o covarde destruiu a flor!



mauh spinelli.

.escolhas.

sim ou não?
não se pode ser dois.
amar dois?
fazer a trÊs?
dois caminhos...
tantos outros,
prismas vertidos,
não escolho,
e empurrado
despenco, no abismo
abros os braços,
e sinto,
o vento cortando meu rosto,
a alma querendo fugir,
o cavalo deslizando pelo prado,
sem renúncias,
sem mundos paralelos
do talvez, do quem sabe,
escolho,
o não escolher.

maurício backer spinelli.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

.caminho.

mergulhado, profundo,
horas subo, respiro,
caminho,
dói e apavora,
mas sigo,
vou inteiro,
partido,
repartindo,
vou pro mundo,
diferente,
restrito,
flutuo,
olho longe,
olhos minados,
e desafogado, continuo,
caminho,
nas tardes frias de julho,
sinto o vento de agosto,
e o sorriso de setembro,
sem desabafos,
sem desafagos,
sem desamores,
tento chegar,
longe,
e pra longe dos dissabores,
conduzo,
minha esfomeada alma.

mauricio backer spinelli

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

de minha inóspita alma

minha alma...
gosto assim,
quando arde.
de vê-la com fome,
de tê-la com sede,
quando busco,
quando devoro,
quando engulo...
aí percebo.
o exato momento;
que ela cresce,
que ela estica,
que ela expande.
o momento exato
que ela é maior,
que meu corpo,
me leva longe,
muito longe,
além do tempo,
do espaço,
indo, me leva,
e me deixa
perdido
onde começa
um inóspito horizonte.

by mauricio backer spinelli

terça-feira, 20 de julho de 2010

não sei mais nada



despretenciosamente,
sem falsas promessas,
sem vontades controversas,
chegaste, cheguei.
só eu sei.

desacostumadamente,
de olhos que penetram n´alma.
de beijos que queimam,
eu já nem queria
fugia, corria, tu sabes!

assustadoramente,
ladrão, roubaste meu tempo!
levaste meu ar, meu instante
sigo, submerso, em tí.
só tu sabes.

descompassadamente
sinto sede, da tua boca.
o sol queima, o coração crú,
latente, sangrando, vivo...
eu sinto, eu sei.

arrebatadamente
sei do tempo que fugi, do tempo que me vi,
contigo, capturado.
deitado. sabemos?
me entrego.

maurício backer spinelli - com o coração indubtavelmente pulsante!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

.joão marcello, o pequeno príncipe.

                                                
   algumas pessoas poderiam dizer que viestes sem ser esperado.
planejado é a palavra de ordem deste momento, aqui fora, no mundo.
eu particularmente não concordo, eu te esperei, de outras vezes,
em outros sustos, esperei que viesse exatamente de tua mãe, você.
vens querido, amado, novamente insisto em dizer, esperado.

"e eu que já amava o barulho do vento no trigo, 
e ouvia por vezes sorrisos e guisos em meio as estrelas"

vens príncipe, dos menores que existe, de um reino que será só teu,
cheio de rosas, vulcões, baobás e gansos encandecentes que rasgam o céu.
é, vens pequeno. pra que possamos ter a honra de te colocar nos braços,
de pensar, por alguns momentos, que és nosso, que poderemos guarda-lo.
a rapousa anda inquieta, a tua espera, todos do reino se preparam.

"eu que corria pelas tarde com a rapousa no meio das rosas,
que me deixei ser cativado pelo carneiro dentro da caixa..."

vens joão, o melhor amigo do filho do homem, o melhor amigo que já conheci.
vens marcello, assim, como quem vem de marte, principe de outros mundos
e com "double l", pra não fugir, a regra de se dobrar o nome na família.
vens spinelli, assim como o héroi da literatura cavaleiresca medieval.
vens principe, pequeno, pra aprender, crescer. e assim virar rei.

"eu que procurei, em todas as galáxias a redoma perfeita,
e que fugi da serpente pro meio do oasis."

já te sabia menino, já te sabia principe, e tua mãe me fez sabê-lo afilhado!
tua mãe, te gesta no ventre, que cresce, que estica, que te alimenta e acomoda.
eu, teu tio, com o coração gestante, te espero aqui fora, no meio do trigaral.
alguns dirão que vens em meio ao caos, desse mundo em inconstante transformação.
e eu te direi, baixinho sem que ninguem saiba, que o mundo nasceu do caos.

"eu que limpei vulcões e podei os baobás, 
embarquei nessas jornada, montado num cometa, pra conhecer os mistérios do mundo...!

vens filho de pipa e filho de tony, és um legítimo exemplar da nova sociedade em que vivemos, 
onde a tribo cuida da nova cria, mas te garanto meu filho, que de novo isso não tem nada.
vens pernambucano, paraíbano, nordestino, cabra da peste com o sol na moleira.
vens raçudo, brasileiro, de souza, de recife, e cheio de sonhos, vens pro mundo.
vens criança, indefesa, inocente, assim, pra alimentar nossos corações de que a vida continua.


maurício backer spinelli - a espera de joão marcello spinelli, filho de Pipa!

domingo, 9 de maio de 2010

.de mim assim, me achando, pra me perder de mim.


assim, sem tirar, nem por, sou tudo isso sim! com todos os sorrisos e lágrimas, com todos os escancaros e resguardos, com todas as tentativas e fracassos, com todos os sonhos e realizações, com todas as conquistas e cada uma das perdas, perdi pedaços pelo caminho, perdi o caminho, perdi a vergonha, perdi a chave de casa, perdi a casa.
minha alma reside num lugar além de minhas compreensões, quando durmo, ela resolve fugir de mim e correr livre por todos os cantos, ela voa alto, pra longe, pra sempre, e me deixa, caído, desfalecido, completamente sem sentidos, em alguns momentos, ela resolve voar e carregar-me junto, voamos por entre as flores azuis, pelo meio do trigaral, contornamos estrelas e deixamos o peso do mundo submerso nos anseios daqueles que de longe ainda conseguem ver os rastro da poeira cósmica que deixamos na atmosfera.
em alguns dias, corro e fujo dela, entrego-me aos prazeres todos do mundo, a cada um de seus desejos e detalhes sórdidos, não me permito fechar os olhos, quero-a presa, voando dentro de mim mesmo, esbarrando em todos os meus muros, gritando com todos os meus brios, me quero assim, vivo, ardendo, queimando, encandescendo, triscando em almas, comendo os corpos, somando e diminuindo, tirando e devolvendo ao mundo, abraçando árvores e sentindo meu corpo se misturar a suas velhas cascas, ficar descalço e enfiar o pé na lama, nu debaixo da chuva, esperando o exato momento que o portal pra terra do nunca se abra novamente.
tudo o que eu fui, mora mais dentro do meu peito do que tudo que sou, o que eu ainda serei se abestalha com o passar dos dias sem ter a menor noção do "time" de entrada nessa história escrita por '"seilaquem". eu quero tudo, cada gole, cada pedaço, cada consequência, cada gemido, de prazer ou de dor, quero todas as gotas, de orvalho, de lágrimas, de sangue, de colírio, de veneno, quero os espinhos, agarrá-los com as mãos, furar neles, meus dedos, e poder enxergar depois a beleza da rosa, efêmera, soberba e inútil.
gosto de me despir, de deixar-me ser visto, por vezes escondo algumas coisas, acho-as feias demais para serem vistas, e em algum momento foi determinado que só o belo poderia ser visto, e logo, antes que ele padeça. por que nada permanece inerte, congelado, imutável, condenado ao lamento da mesmice "do pra sempre assim", a vida é esse turbilhão, esse jorro amontoado de atropelos e acontecimentos que rasga a gente de dentro pra fora, e nos faz viver morrendo um pouco a cada dia.
maurício backer spinelli. completando mais um ciclo cronológico que o tempo nos impõe!

domingo, 25 de abril de 2010

.da inevitável partida.


que seja rápido, que não haja tempo pra despedidas, tristezas ou lamentos.
que em meu peito eu não carregue mágoas, 
que eu leve apenas a certeza leve de que fiz tudo o que podia.
que eu vá acompanhado de sorrisos, perdões, sonos de crianças, pés na areia da praia, 
cheiro de chuva no fim da tarde, lambida de cachorro na cara,
galopar de cavalos cortando o vento e do sorriso dos meus sobrinhos!
que as flores não sejam arrancadas de lugar algum, prefiro-as vivas!
que ninguem queira aliviar sua culpa, sua ausência e suas faltas, 
com flores mortas ou palavras vazias aos meus pés.
que os amigos que mais me amam, cuidem de minha mãe, abracem-na, dêem colo, 
e me mantenham vivo estando ao seu lado.
que os que amei tenham a certeza de como valeu a pena minha passagem por esse planeta, 
de como fui feliz mesmo com todos os espinhos, e  com o peso da cruz.
que algum amigo compositor, me faça um samba e um frevo, 
pra que eternizem o meu amor e o meu trabalho.
que o cair da tarde, traga sempre a saudade do meu colo e do meu afago... 
que o nascer do dia, com o sol rasgando céu azul traga uma incrível vontade 
de tomar todas à beira da praia ouvindo los hermanos e maria rita!
que fique certo, que cabe a vivy toda a responsabilidade por meus objetos pessoais, 
que tudo seja dado, que nenhuma roupa fique guardada, 
nenhum lençol, toalha, sapato ou agasalho, 
e que meus amigos possam guardar algo que seja últil,
como Cd, filme, ou algo de minhas coleções!
não achem que minha luta foi em vão, nem minhas decisões, 
eu não casei, nem tive filhos, nem um trabalho convencional, 
mas fiz e segui tudo aquilo que eu acreditava, e me reinventei a cada passo!
não existe segredo pra ser feliz, e nem uma fórmula secreta, 
é simples, e todos nós temos direito a essa felicidade.
aceitem tudo que tiverem, vivam o papel que foi destinado a vocês,
assumam seu personagem e fiquem amigos do autor
e do diretor dessa trama mais que escapinesca.
que não haja cortejo, nem ultimas palavras, nem última pá de terra,
pelo amor de deus, vão viver!!!
a vida passa num segundo, e não nos cabe o momento seguinte!
se puderem, façam como os funerais americanos,
festejem a morte como parte invitável da vida, 
não usem preto, eu quero cores, quero som, quero boas lembranças de tudo que vivemos.
que Deus me conceda o privilégio de ser recebido pelos meus avós, 
por joão barbalho e por tia vera na porta do paraiso, 
que o anjo mais lindo, com as asas pintadas por minha avó maria
me leve pra voar sobre um jardim com flores cultivadas por vovó tiva.
e dessa inevitável jornada, a qual cada um de nós, no seu devido momento seguirá.
 é preciso entendermos, antes de partirmos
que nascemos e morremos, todos os dias, ao dormir e ao acordar.


maurício backer spinelli . antes da última cirurgia.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

.digo.




do que pensei ter sido amor, sobraram as ultimas palavras perdidas dentro de um livro,
 teu cheiro ainda percorre meu travesseiro,
e em alguns dias acordo contigo deitado no meu peito, 
sinto teu peso, teu calor, e teu sorriso acaba tomando conta do meu quarto.
ficaram algumas perguntas sem respostas, alguns beijos perdidos no vazio, 
meus olhos a buscar qualquer sinal do que tenha sido luz, 
algum barulho que seja, de quando nos amamos pela primeira vez. 
algumas músicas perderam sim o sentido, 
exatamente nove e meia semanas de amor, de um amor que tornou-se banal.
de um desamor sem igual.



maurício backer spinelli.  

.da retomada da escrita.



ontem completaram dois meses de minha terceira cirurgia, to com a prescrição de um bocado de exames e médicos pra remarcar, senti um certo receio, medo talvez, isso me deixou o dia inteiro acabrunhado, por que a sensação de retroceder me causa um certo desconforto, dormi com a cabeça que mais parecia um turbilhão, cheio de planos pra semana, de coisas ainda não realizadas.

Hoje ao acordar, o primeiro pensamento foi: Medo? medo de que? medo pra que? você será feliz vivendo seja lá o que for. Pronto, isso me encheu de coragem, e tudo ficou mais colorido, me situei na data de hoje, e acabei lembrando do velho amor, por ser hoje seu aniversário, decidi, depois de tantos anos, não mais telefonar, mesmo sabendo, que ele fará sempre parte de minhas lembranças!

O dia começou com um movimento diferente, to cheio de "vontades", fiz a fisioterapia matinal, comi minhas frutas com granola e resolvi continuar de boca fechada pra perder peso, coloquei "julie and julia" pra terminar de ficar absolutamente ainda mais encantado com Meryl Streep, não posso esquecer também que hoje tenho que terminar de ler " Cartas Portuguesas de Mariana Alcoforado" primeiro exercicio teatral passado por carlinhos.

O aniversário foi marcado, será dia 16 de Maio, no espaço MUDA, juntamente com Priscilla, estou fazendo isso tudo com aquela sensação de recomeço, NADA MAIS É ABSURDO [ principalmente depois dos trinta], esse foi o título que escolhemos, pra juntar os amigos, com a boa música do Rabecado, Dj Moreno, Carlos Ferrera e Naara.

A vida realmente voltou a girar, e com força! Entre riscos e rabiscos vou traçando os novos caminhos, novos trabalhos, novos amores e dessa íncrível vontade de fazer as coisas acontecerem, vem aí o SANTO DE CASA - artes & milagres, ( logo falarei sobre isso). Estou retomando tudo, renovando, reciclando e tentando não deixar essa nova pessoa se perder nas ilusões desse mundo calorento, que calor absurdo é esse?

Nessa semana tem feriado, o sol entra no signo de "taurus", fim do que poderia ter sido um inferno astral, vou marcar jantar de novo, com massas, pra celebrar tantas boas transformações, mais algumas semanas e João Marcello vem ao mundo, essa proximidade de vê-lo pular pra fora da barriga de vévis, me deixa ainda mais encantado com a vida, e com o presente que recebi de Deus, em poder continuar aqui, e viver isso com minha familia, a chegada dele também fortalece a vontade de adotar uma criança, de escolher um pequeno ser pra amar, assim que todas essas questões do meu joelho se resolverem, esse será meu grande projeto de vida; " ser pai", e o melhor, talvez ser um pai solteiro, por que não vou esperar mais por esse amor que insiste em demorar a chegar.

assim mais um dia chega rasgando as horas, sempre com alguma coisa acontecendo, e quando não acontece, eu faço acontecer, busco incansavelmente motivos, razões e almas.Foco nos meus objetivos, quero ir pra frente, e sentir que cresço a cada passo.Exercito a paciencia e a tolerância, vou respeitando o tempo que as coisas precisam pra que tudo aconteça.

maurício backer spinelli, na retomada da escrita pós alta hospitalar! 19.04.2009

domingo, 11 de abril de 2010

.dos pequenos pensamentos.




mais uma vez pedro olhava seu quarto, já vazio de tudo que era dele, 
todas aquelas coisas, aqueles cantos, já sem encantos 
e entulhado de lembranças e de uma vida quase que inteira. 
Naquela manhã o sol não conseguia quebrar toda a escuridão do seu envólucro, 
ele tentou levar tudo que fizesse parecer que na verdade ele nunca tinha ido, 
como quem levasse aquele pedaço de calçada e árvore pra todos os lugares do mundo. 


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foram dias girando em volta de sí mesmo, afinal era apenas uma bolha,
 uma bolha meio desmedida, longe de ser redonda, um tanto achatada,
 de ângular nem a esquina com as fronteiras, 
o azul nunca tão celeste quanto a do céu que o arrancava da cama de manhã, 
tinha uma iluminação diferente e periódica, uma fonte que jorrava sonhos em todos os tons de azul, 
e uma barra dessas gigantes, onde depois do alongamento, 
todos eram conduzidos pra muito além daquela figura geometricamente equivocada.



maurício backer spinelli . sobre a bolha azul

segunda-feira, 5 de abril de 2010

.dos limites.



aos poucos redescubro meus movimentos, eles mudaram, eu mudei.
os dias passam, levando embora medos, realidades e uma pá de outras coisas.
sinto dedos, músculos, tecidos e o ranger do espaçador.
a perna ainda não pisa. terminantemente proibida de tocar o chão, não desisto!
obrigatoriamente, uma parte em mim, ou melhor duas, não habitam o tocável.
perdi em parte a referência do plano, do concreto, do palpável.

vou vencendo os limites do corpo, juntamente com os da alma.
liberto-a nas horas de relaxamento, vôo tão longe que penso ter asas.
aprendendo a sentir diferente e buscar outros caminhos.
dou duas voltas ao redor do posto de enfermagem com cara de descobridor do mundo.
chego esbaforido de volta à bolha, ofegante e trêmulo, buscando o descanso.
a respiração agora é pensada, colocada e encaixada.

me dei o direito de recusar os remédios pra dor, ao menos esta semana.
superei o limite do "brace". agora ele repousa encostado fora da perna.
recupero com o passar dos dias minha indepêndencia, já vou só ao banheiro.
"ando-flutuo" por dentro d´água, encontrando o equílibrio sem derrapar.
é proibido cair, dançar rebolation, dar pernada e ter "os pés no chão".
entre movimentos isométricos e pensamentos hérméticos, reconstruo.

agora, o meu limite sou eu mesmo. finalmente dei de cara com o pior dos inimigos.
ao primeiro raiar do sol, mais um duelo. tentarei novamente surpreender-me!


por maurício backer spinelli.

[em seu trigésimo terceiro dia de internamento, no Memorial São José no apt. 254]

.da cura da alma.

Se nosso corpo adoece, é que algo na nossa vida não está tão bem, a doença começa na alma, no coração, na mente, o corpo é o último sinal e muitas vezes o mais evidente de que algo realmente precisa ser mudado! A doença é uma chance que a vida nos dar de auto-avaliação, é um tempo dentro do tempo, e é preciso ter coragem e determinação pra verter o rumo das coisas. Crescer dói, encarar os erros e medos é algo muitas vezes monstruoso, porém é o primeiro passo pra cura, se o problema começa na alma, a cura também tem ínicio nela, e fé é nossa maior arma, nosso grande porto seguro.

maurício backer spinelli.

sábado, 3 de abril de 2010

.da paixão do filho do homem.




sábado da paixão, do silêncio. calam-se sinos, instrumentos, vozes ... calaram cristo ! um dia de silêncio pra tanta dor sentida, alguns diriam que ele morreu de amor, a paixão de cristo, pela criatura humana, criatura que o açoitou e depois matou. ( sim, somos capazes de matar a mão que alimenta nosso corpo, e a mão que alimenta nossa alma) fomos criado a imagem e semelhança de Deus? "Fulget crucis mysterium".

maurício backer spinelli.
                                                                                   ..........


domingo de ramos, em pensar que jesus cristo, chega a jerusalém, recebido com total jorro, e mesmo sabendo do seu fim, e do quanto seria açoitado e humilhado, não perdeu seu foco, sua disciplina, sua fé e o seu amor, ele seguiu firme, e resignado fez o que tinha de ser feito. Independente de religião, a "História de Jesus Cristo" é o maior exemplo dos verdadeiros valores morais, e dos mais desprezíveis também!

maurício backer spinelli.

segunda-feira, 15 de março de 2010

.do caminho que nos cabe.

escolhemos os caminhos sem nem saber onde eles vão nos levar, sofremos mudanças ao longo desse processo, nos olhamos no espelho tentando manter o mesmo brilho no olhar e a menor quantidade de rugas possivel pra podermos "sair bem na fita" e quem sabe até tirar uma foto na digital, cheio de sorrisos plásticos e fazer " a poliana" aos olhos de todos nos troçobooks da rede.

deu  no jornal nacional que a expectativa de vida aumentou, que a terceira idade vive feliz, faz sexo e que muitos ainda jogam o pernão. A vida se estendeu em suas atividades, podemos terminá-la fazendo um cruzeiro ao redor do mundo antes que os tsunamis detonem os oceanos e as plascas téctônicas sejam usadas na estrada pra sinalizar o fim dos tempos. As escolhas seguem se costurando a outras e aos outros, numa dança descompasada.Encontros e desencontros, fracassos, vitórias e muita coragem preenchem o nosso "pra frente é que se anda", abrimos gavetas, quebramos portas, "chupamos o pau da barraca", e vamos indo tentando caber no espaço que diminue dia-a-dia.

e pra que isso tudo? de onde viemos? pra que estamos vivos? será que Deus existe? vamos morrer sozinhos? perguntas clichês e que fazem arrepiar cada cilio, inclusive os postiços. aprendemos a conviver com todo tipo de mazela, encontramos flores no meio das pedras, pessoas que sobrevivem há duas semanas embaixo dos escombros e aos poucos começamos a olhar pro lado de uma forma mais humana, mas ainda assim, por medo, medo de não ser olhado, de não ser notado, de não ser salvo e acabar morrendo afogado na décima quinta valeta da avenida principal.

um vizinho de heitor precisou de doação de sangue, nos mobilizamos todos pra mandar centenas de e-mails e conseguir a quantidade de braços necessários pra serem furados, alguem me disse que ele ia fazer um tratamento, outro falou em cirurgia, fernanda falou que era anemia, e só hoje descobrimos por dona severina que ele não tinha suportado e morrera de leucemia.Poxa ! mas fizemos tanto, (?) será que Deus não viu? ele era tão bom.... ( ninguem tem defeito depois que morre...!) temos que mandar uma coroa de flores, ao menos sabemos o nome dele, quem ficou responsável pela lista de nomes dos infelizes do Haiti? será que houve tempo pra saber todos os nomes do 11 de setembro? e da lista de pessoas que hoje foram doar sangue pro banco de médula? quantas pessoas podemos salvar? quem se lembrará da minha vida já que eu não sou famoso, não tive um filho e nem consegui escrever meu livro?

hoje o plano autorizou a cirurgia de bruno, depois de quase um mês de tanta burocracia, de tantos laudos, de tanta pericia, consultas, exames, fístulas, noites insones e tudo quanto é desculpa pra adiar esse procedimento precedido por um peseudo-erro-médico ( sim pseudo! por que os médicos tem ética nesse país, assim como os políticos, candidatos ao estrelato e mais uma lista bizarra de seres medonhos). Ao menos ele não terá que se render ao nosso sistema de saúde pública, imagina esse último mês enfrentando a UPA? será que seria removido como nosso ilustríssimo Luiz da Silva para o melhor hospital da capital?

e no mundo que construímos, ou que estamos terminando de destruir, vale aquele que tem algo pra dar, aquele que tem posição, status e mais uma pá de dinheiro enfiado na meia. Os valores morais estão fora de moda, dignidade, amor ao próximo e transparência é produto escasso no "mercado livre", quem sabe no "submarino" ainda exista alguma promoção? e no fim... não levamos nada, não somos nada, nada nos pertence, nem o segundo seguinte, nem o planeta que herdamos, nem mesmo o amor que nos foi sacrificado numa cruz, jogamos fora a mão, o ombro, o abraço, os olhos nos olhos e a vergonha na cara, quem quiser que acorde, nem que seja pra assistir ao fim de camarote, pois talvez já seja tarde demais e as trÊs bolsas de sangue que sobraram não sirvam a ninguem, pois estão contaminadas.

maurício backer spinelli em Fevereiro de 2010.

domingo, 14 de março de 2010

.do primeiro momento do azul.

esse medo absurdo de amar, de pular do abismo e se entregar por inteiro,
essa eterna projeção do pra sempre, do até quando, e de todas as impossibilidades,
o boicote do momento, do presente, do que nos pertence, e amanhã? quem sabe do amanhã?
eu quero você agora, quero teu cheiro, teu abraço, teu barulho, teu gosto, teu toque,
quero ser a realização dos teus sonhos, por segundos que seja, quero ser nosso, e ter a gente,
agora, aqui, nesse momento, quero teu olhos, tua boca, tua mão, teu suor, teu ritmo, tua lágrima,
quero teu acordar, teu abraço e o teu querer, quero você em mim e eu em você.

maurício backer spinelli.

sábado, 13 de março de 2010

.simples assim.

sempre gostei de alegria, de juntar pessoas, de vÊ-las felizes,
um verdadeiro promotor de felicidade, de folia, de jorro!
comecei fazendo isso pela simples vontade de celebrar a vida,
de ajudar aos amigos, de poder estar próximo, de criarmos histórias...
com o tempo isso virou trabalho, virou vitória, virou fracasso,
com o tempo isso me afastou de mim, e de coisas substâncialmente importantes
o inflamar dos egos, as máscaras usadas na noite, o jogo de interesse e convivência
percebi que tinha perdido o foco, o trabalho perdeu o prazer, o sentido.
a enfermidade ficou maior que qualquer outra escolha, senti medo
logo não seria mais tão interessante, logo a árvore não faria mais sombra.
e aos poucos, com o tempo, outras coisas foram se mostrando,
a felicidade ressurgiu na vontade de viver, de olhar no olho
de ver afastado as companhias de conveniência, de ver junto as melhores pessoas,
de ver que a vida agora era de mais verdade, de mais presente.
percebo as coisas, as pessoas, os sentimentos de uma forma muito clara
sinto que cresço a cada dia a passos lentos e precisos,
onde vou parar, nem consigo imaginar, vou vivendo o instante do abrir dos olhos
ainda promovo felicidade, produzo alegrias, lanço esperança aos que convivem comigo
comemoramos todos os dias as vitórias alcançadas, não só as minhas
enxergam-me como exemplo de força, enxergo-me como um menino aprendiz
vou à festas com djs e bandas na minha própria cama, o dancing bomba sempre!
cantamos sambas aqui dentro deste quarto e eternizamos momentos únicos.
a vida em mim explode e implode, sem que nem eu tenha controle.
tenho sido feliz, cada vez mais feliz, 
não sei mais esperar e nem encontrar mais desculpas pra não ser.
sim eu sou, simples assim, como o amanhecer eufórico de nossas madrugadas de samba.


Mauricio Backer Spinelli em 27.02.2010 - no memórial são josé.

sexta-feira, 5 de março de 2010

.da tentativa de explicar.

quando criei esse blogh, não tinha pretensão de nada que não fosse apenas escrever e ser lido por pessoas próximas, estava internado no santa joana, onde tinha feito duas cirurgias complicadas, queria da notícia aos meus, exercitar um pouco da escrita e passsar também um pouco do tempo ( é, eu tinha muita pretensão) logo eu Hemofilico, acabei morando quase seis meses no hospital entre cirurgias, pós operatórios, concentrados de fator 8, antibioticoterapia e uma série de outros procedimentos e infecções. Deixei o Hospital em 27 Julho de 2009, lá deixei e vivi muita coisa, do meu aniversário a morte de minha avó, lá também pude da de cara pela primeira vez com a frieza desumanda de médicos, de como eles se acham semi-deuses, dei de cara com humanidade e com alguns profissionais de saúde que da orgulho de conviver, tive momentos incríveis de tristeza e de felicidade, assim, exatamente como é na vida além daqueles muros.

Agora, estou eu aqui de novo, já não mais no Santa Joana, e sim no Memorial São José, o tratamento do ano passado não deu certo, tive que operar a perna e tirar as peças da protese e iniciar uma antibioticoterapia de 42 dias com uso de Targocid e Fortax, além do concentrado de Fator 8 e outras drogas lícitas pra pressão, pra dormir, pra aumentar imunidade, pra dor...
no dia da cirurgia, meu médico atual, Dr.Luiz Costi me prôpos não pensar no futuro por algum tempo, e pensar focadamente em como debelar minha infecção, pois dito por ele ao abrir minha perna as condições estavam piores do que se esperava, houve retirada de osso, músculo e tecido, confesso que confio na equipe que esta me tratando e que nos últimos 18 dias preferi não pensar no futuro, porém depois que Carlos Ferrera (meu amigo, escritor, ator, compositor, cantor e um anjo que vem iluminando meus passos) me sugeriu transformar essa experiencia toda em algo que pudesse ajudar técnicamente e espiritualmente as pessoas, bom estamos amadurecendo de que forma isso será feito, então a partir de hoje voltarei a usar esse espaço pra dizer tudo aquilo que possa ajudar o próximo, que possa informar, explicar, ou simplesmente colocar pra fora o que eu sentir vontade e conseguir gritar pra fora dessa bolha azul!

Hoje a solidão me pegou, não é fácil estar aqui, mas aqui estou, e vou tentar fazer disso algo melhor!

Boa Noite pra Vocês!!

Maurício Backer Spinelli.

terça-feira, 2 de março de 2010

.de momento.


de momento.

nosso encontro assim, nessa vida, sem pretenções de nada que não fosse apenas aquele momento.
não contávamos que tudo se encaixaria assim, tão perfeitamente ao ponto de não ser possivel, mesmo querendo partir e ficar, por alguns momentos, foi possivel sim! entre sorrisos, sensações, abraços de pra sempre, incertezas, negação, por desculpas que encontramos em nossas vidas pra talvez não ser feliz, por que queremos tudo e todos, e escolher "um" é muito pouco, mesmo quando é assim, tão absurdamente bom... no cheiro, no toque, na quimica, na afinidade, no ritmo, dentro um do outro.

e sem temer naúfragar, verto meu barco pra outro caminho, o vento que sopra minha vela ainda traz o cheiro do nosso gozo, o gosto do amor que foi apenas de momento chega a minha boca depois do jantar, tua cor se mistura ao azul, me fazendo lembrar os dias que fiz de você o sol... agora quero poder partir, e deixando as lembranças desaguem em outro leito, e reinventando meus passos, navego agora em busca de outros momentos.


mauh backer spinelli, vivendo de amor de momentos.

ps: e amor de momento, é amor?



beijomeliga que hoje mesmo operado, acordei com o coração assim!