terça-feira, 21 de julho de 2009

primeiro desabafo desse internamento.



essa é a sexta semana consecutiva que estou internado no bom e velho santa joana pra fazer uma antibioticoterapia ( preciso mesmo explicar o que significa?)... fiquei no quarto 33, do mesmo prédio que aprendi a me sentir em casa, o medcenter, foi a primeira vez que me internei e passei pela recepção com os olhos cheios de lágrimas, com medo, desesperançado, sem entender o por que de tantos capitulos nessa história.

me senti desamparado pelos meus ortopedistas, me senti assustado com a possibilidade de abrir de novo, de passar meses a fio nesse tratamento, tudo passou pela minha cabeça, em segundos aquela bolha que apareceu na minha cicatriz de 28 pontos me levou ao inferno.

passei dias querendo escrever, comunicar aos amigos, mas tava sem saco, sem coragem, precisava reunir forças pra passar por mais esse desafio, onde paciência, disciplina, fé e perseverança eram fundamentais. Os dias foram passando um a um, algumas noites insones, o silencio que falava comigo, os monstros fora do armário, as lembranças de tudo que já tinha vivido até esse momento, no mesmo quarto. quando escolhi operar o joelho, avaliei todos os riscos, que um hemofilico A moderado teria, em colocar uma prótese, escolhi tudo, inclusive quem me trataria diariamente, e sabia dos riscos, de infecção e de tudo que acarreta fazer uma artroplástia.

mas eu tava cansado, eu to cansado, precisando de uma pausa disso tudo, deixei de fumar, de beber, 4 meses até de trepar, minha vida boêmia agoara é história pra boi dormir, segui por outro caminho, dou de cara todas as noites com meus medos, com uma outra realidade, realidade que fugi, que todos fugimos e que achamos que não é vida.

No mesmo dia que me internei,envoquei uma força que nem sei de onde veio e segui em frente, dormi todas as noites sozinho, passei a ler mais, a escrever mais, a conversar mais comigo, com deus, a olhar mais ainda pra mim e pras minhas escolhas, a peneirar tudo o que eu tinha a minha volta, se não podia escolher estar ou não nessa situação, no mais eu escolheria, escolhia o que comer, o que vestir, o que ouvir, o que ver e com quem conviver, tomei a vida ali, naquele momento, no exato momento em que pensei ter me perdido, eu encontrei um caminho.um caminho todo novo, onde escolhi me despir de muita coisa, inclusive de encarar a morte e o medo dela como algo extremamente natural, como quem apenas dorme depois de um longo dia de trabalho.

entre curativos, fisioterapias, jelco, chegar sem andar, voltar a andar, taxas de exames que sobem, que descem, médicos insensíveis que te apavoram de forma irreponsável, sorrisos, orações, passeios, carrinho do lanche, gosto metálico na boca, dores, tomografias, cintilografias, radiografias, furadas, muitas furadas, jejuns pra exames, novelas de tarde com vaninha, medo do resultado dos exames, material radioativo correndo nas minhas veias, imunidade baixa, imunidade alta, mudança de valores, o mundo que muda, que gira, que deixa tonto, pessoas que cruzam seu caminho assim cheio de amor, orações e verdade pra que você fique bom, cortinha que caí dos olhos e você se encontra obrigado a ver o mundo completamente diferente, onde as pessoas encontram tempo pra encher a cara com vc embaixo de uma arvore, mas pouco se importam quando você já não tem determinadas coisas a oferecer...

e pela primeira vez, percebi que eu tinha a minha vida, alí, com medo, onde podia perdê-la, onde podia mudar ainda mais, mas sou eu, deus e minha vida, um grande encontro, um momento único, que nem da pra explicar em palavras, e encontrei felicidade aqui nesses dias e uma enorme vontade de voltar pra minha casa, de ter mais tempo pra mim, pra minha mãe, minhas irmãs, meus sobrinhos, meus amigos, e dessa vez, não por medo de perder, por que o que é de verdade, jamais estará perdido, mas por escolha, de dizer, é por alí e é dessa forma que eu vou.


maurício backer spinelli há 5 dias de receber alta.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

funny ilusion logran !



trabalhar com a ilusão, mexer com ego, com a libido, com as posibilidades e com a fantasia do outro, no fim das contas era isso que terminávamos por fazer...
afinal, mesmo chegando tão junto da gente, sem ser um dos nossos, eles jamais poderiam ser um de nós, no máximo, por algum tempo; estar junto.
tolos que nunca perceberam que poderíamos caminhar lado a lado, e repito, não todos, mas pelo tempo que estívessemos juntos, poderíamos trocar do sumo da vida, e beber de sabores diferentes.

inebriados sambávamos embaixo das árvores, da chuva, dos primeiros raios de sol, amanhecíamos acordando os passáros e com um largo sorriso enfadado de tantas horas de escancaro.
a essência é individual e poucos compreendem de fato a importância de ser núcleo, e menos ainda compreendem que cada fragmento desse todo tem sua importância, e gastam toda sua energia querendo reproduzir aquilo que gostariam de ser, de ter, de sentir... sem nunca conseguir de fato chegar perto do que é real.

por que alí todas as estações co-existiam, alí tudo era possível, e dentro de nosso seio o amor transborda mesmo com ausência, mesmo com os abismos, mesmo com as vertigens, existem uma paixão e uma força selvagem que é nossa, e que continuará sendo nossa, seja como for, seja onde for.

a vida segue em frente, essa é a grande força de tudo, é algo que não podemos conter, nunca! jamais... e só os fortes sobrevivem!!! aos fracos... a ilusão de que podem ser algo além de figurantes.


maurício backer spinelli - julho 2009.




conheçam um pouco da maravilhosa Erika Sother - http://www.erikasother.com/

quarta-feira, 8 de julho de 2009

conversinha de fim de feira...


Ele me disse:- Você deveria jogar tudo isso fora...


Mas eu fiquei com muito medo, por que tava tudo misturado e tinha coisas alí dentro da sacola que eram muito importantes na minha vida...

- Algumas vezes precisamos nos livrar de coisas importantes na vida pra seguir em frente, pra saber onde estamos pisando, pra seguir o caminho mais leve...

Aí abri a sacola e comecei a procurar...

- Não!! Não!! joga tudo, sem escolher nada... apenas joga...

Gelei.... nem lembrava de tudo que tava alí dentro, ou se eu tinha uma sacola reserva pra voltar a encher...

- Joga no mar... no rio... no vento... joga em algum lugar onde isso possa se transformar...
- Transformar... seguir... é eu preciso disso!
- Você precisa se livrar do peso morto...
- Mas uma parte de mim também morreu..
- Se livra dessa parte também... Não ta tudo na sacola? joga ela fora!!!
- Não sei se ta tudo aqui...
- Mas joga... Joga tudo fora!!!
- Jogo?
- Joga!!!
- Joguei...

mauricio backer spinelli . 2005


( há quatro anos atrás, de quando a rita tinha roubado meu sorriso, dentre outras coisas... jogando tudo fora de novo... é preciso !os médicos recomendaram tirar todo o peso de cima da carcaça pra poupar a prótese, aproveitando que arranquei portas e derrubei janelas, vou jogar o que puder fora, quem sabe de tão leve não vôo com o vento? )

quinta-feira, 2 de julho de 2009

apaixonado


me apaixonei pelas palavras. Pelas contrução das frases, pelo respirar ortográfico; estou absorto e encantado, tal qual menino quando aprende a ler.


estou apaixonado pela escrita, pelo cicronismo dos pensamentos, pela ordenação emocional, pela cautela pontual.


eslas tem vida própria, e juntas me causam e emocionam, sim eu estou apaixonado, pelas palavras, e pretendo consolidar esse amor casando-me com elas.



maurício backer spinelli - 28.06.2009.