aos poucos redescubro meus movimentos, eles mudaram, eu mudei.
os dias passam, levando embora medos, realidades e uma pá de outras coisas.
sinto dedos, músculos, tecidos e o ranger do espaçador.
a perna ainda não pisa. terminantemente proibida de tocar o chão, não desisto!
obrigatoriamente, uma parte em mim, ou melhor duas, não habitam o tocável.
perdi em parte a referência do plano, do concreto, do palpável.
vou vencendo os limites do corpo, juntamente com os da alma.
liberto-a nas horas de relaxamento, vôo tão longe que penso ter asas.
aprendendo a sentir diferente e buscar outros caminhos.
dou duas voltas ao redor do posto de enfermagem com cara de descobridor do mundo.
chego esbaforido de volta à bolha, ofegante e trêmulo, buscando o descanso.
a respiração agora é pensada, colocada e encaixada.
me dei o direito de recusar os remédios pra dor, ao menos esta semana.
superei o limite do "brace". agora ele repousa encostado fora da perna.
recupero com o passar dos dias minha indepêndencia, já vou só ao banheiro.
"ando-flutuo" por dentro d´água, encontrando o equílibrio sem derrapar.
é proibido cair, dançar rebolation, dar pernada e ter "os pés no chão".
entre movimentos isométricos e pensamentos hérméticos, reconstruo.
agora, o meu limite sou eu mesmo. finalmente dei de cara com o pior dos inimigos.
ao primeiro raiar do sol, mais um duelo. tentarei novamente surpreender-me!
por maurício backer spinelli.
[em seu trigésimo terceiro dia de internamento, no Memorial São José no apt. 254]
Olá tudo bem contigo?
ResponderExcluirGostei de teus textos menino ...
Estimo melhoras!!!
abraço