domingo, 9 de maio de 2010

.de mim assim, me achando, pra me perder de mim.


assim, sem tirar, nem por, sou tudo isso sim! com todos os sorrisos e lágrimas, com todos os escancaros e resguardos, com todas as tentativas e fracassos, com todos os sonhos e realizações, com todas as conquistas e cada uma das perdas, perdi pedaços pelo caminho, perdi o caminho, perdi a vergonha, perdi a chave de casa, perdi a casa.
minha alma reside num lugar além de minhas compreensões, quando durmo, ela resolve fugir de mim e correr livre por todos os cantos, ela voa alto, pra longe, pra sempre, e me deixa, caído, desfalecido, completamente sem sentidos, em alguns momentos, ela resolve voar e carregar-me junto, voamos por entre as flores azuis, pelo meio do trigaral, contornamos estrelas e deixamos o peso do mundo submerso nos anseios daqueles que de longe ainda conseguem ver os rastro da poeira cósmica que deixamos na atmosfera.
em alguns dias, corro e fujo dela, entrego-me aos prazeres todos do mundo, a cada um de seus desejos e detalhes sórdidos, não me permito fechar os olhos, quero-a presa, voando dentro de mim mesmo, esbarrando em todos os meus muros, gritando com todos os meus brios, me quero assim, vivo, ardendo, queimando, encandescendo, triscando em almas, comendo os corpos, somando e diminuindo, tirando e devolvendo ao mundo, abraçando árvores e sentindo meu corpo se misturar a suas velhas cascas, ficar descalço e enfiar o pé na lama, nu debaixo da chuva, esperando o exato momento que o portal pra terra do nunca se abra novamente.
tudo o que eu fui, mora mais dentro do meu peito do que tudo que sou, o que eu ainda serei se abestalha com o passar dos dias sem ter a menor noção do "time" de entrada nessa história escrita por '"seilaquem". eu quero tudo, cada gole, cada pedaço, cada consequência, cada gemido, de prazer ou de dor, quero todas as gotas, de orvalho, de lágrimas, de sangue, de colírio, de veneno, quero os espinhos, agarrá-los com as mãos, furar neles, meus dedos, e poder enxergar depois a beleza da rosa, efêmera, soberba e inútil.
gosto de me despir, de deixar-me ser visto, por vezes escondo algumas coisas, acho-as feias demais para serem vistas, e em algum momento foi determinado que só o belo poderia ser visto, e logo, antes que ele padeça. por que nada permanece inerte, congelado, imutável, condenado ao lamento da mesmice "do pra sempre assim", a vida é esse turbilhão, esse jorro amontoado de atropelos e acontecimentos que rasga a gente de dentro pra fora, e nos faz viver morrendo um pouco a cada dia.
maurício backer spinelli. completando mais um ciclo cronológico que o tempo nos impõe!

Um comentário:

  1. para nossa felicidade, o tempo é apenas cronologicamente constante!
    Fazemos o nosso tempo em suas outras instâncias, em suas múltiplas possibilidades e desdobramentos.
    Entender que uma das poucas coisas que pertencem de fato à ele, ou seja, que essa sua cronologia é só uma das coisas, faz-nos querer apropriar do resto. E é muito!

    É bom saber que, nem sempre, Chronos está aqui por perto. Hora de despir, aliviar, jorrar e ser!

    Te amooo!

    ResponderExcluir