quarta-feira, 19 de maio de 2010

.joão marcello, o pequeno príncipe.

                                                
   algumas pessoas poderiam dizer que viestes sem ser esperado.
planejado é a palavra de ordem deste momento, aqui fora, no mundo.
eu particularmente não concordo, eu te esperei, de outras vezes,
em outros sustos, esperei que viesse exatamente de tua mãe, você.
vens querido, amado, novamente insisto em dizer, esperado.

"e eu que já amava o barulho do vento no trigo, 
e ouvia por vezes sorrisos e guisos em meio as estrelas"

vens príncipe, dos menores que existe, de um reino que será só teu,
cheio de rosas, vulcões, baobás e gansos encandecentes que rasgam o céu.
é, vens pequeno. pra que possamos ter a honra de te colocar nos braços,
de pensar, por alguns momentos, que és nosso, que poderemos guarda-lo.
a rapousa anda inquieta, a tua espera, todos do reino se preparam.

"eu que corria pelas tarde com a rapousa no meio das rosas,
que me deixei ser cativado pelo carneiro dentro da caixa..."

vens joão, o melhor amigo do filho do homem, o melhor amigo que já conheci.
vens marcello, assim, como quem vem de marte, principe de outros mundos
e com "double l", pra não fugir, a regra de se dobrar o nome na família.
vens spinelli, assim como o héroi da literatura cavaleiresca medieval.
vens principe, pequeno, pra aprender, crescer. e assim virar rei.

"eu que procurei, em todas as galáxias a redoma perfeita,
e que fugi da serpente pro meio do oasis."

já te sabia menino, já te sabia principe, e tua mãe me fez sabê-lo afilhado!
tua mãe, te gesta no ventre, que cresce, que estica, que te alimenta e acomoda.
eu, teu tio, com o coração gestante, te espero aqui fora, no meio do trigaral.
alguns dirão que vens em meio ao caos, desse mundo em inconstante transformação.
e eu te direi, baixinho sem que ninguem saiba, que o mundo nasceu do caos.

"eu que limpei vulcões e podei os baobás, 
embarquei nessas jornada, montado num cometa, pra conhecer os mistérios do mundo...!

vens filho de pipa e filho de tony, és um legítimo exemplar da nova sociedade em que vivemos, 
onde a tribo cuida da nova cria, mas te garanto meu filho, que de novo isso não tem nada.
vens pernambucano, paraíbano, nordestino, cabra da peste com o sol na moleira.
vens raçudo, brasileiro, de souza, de recife, e cheio de sonhos, vens pro mundo.
vens criança, indefesa, inocente, assim, pra alimentar nossos corações de que a vida continua.


maurício backer spinelli - a espera de joão marcello spinelli, filho de Pipa!

domingo, 9 de maio de 2010

.de mim assim, me achando, pra me perder de mim.


assim, sem tirar, nem por, sou tudo isso sim! com todos os sorrisos e lágrimas, com todos os escancaros e resguardos, com todas as tentativas e fracassos, com todos os sonhos e realizações, com todas as conquistas e cada uma das perdas, perdi pedaços pelo caminho, perdi o caminho, perdi a vergonha, perdi a chave de casa, perdi a casa.
minha alma reside num lugar além de minhas compreensões, quando durmo, ela resolve fugir de mim e correr livre por todos os cantos, ela voa alto, pra longe, pra sempre, e me deixa, caído, desfalecido, completamente sem sentidos, em alguns momentos, ela resolve voar e carregar-me junto, voamos por entre as flores azuis, pelo meio do trigaral, contornamos estrelas e deixamos o peso do mundo submerso nos anseios daqueles que de longe ainda conseguem ver os rastro da poeira cósmica que deixamos na atmosfera.
em alguns dias, corro e fujo dela, entrego-me aos prazeres todos do mundo, a cada um de seus desejos e detalhes sórdidos, não me permito fechar os olhos, quero-a presa, voando dentro de mim mesmo, esbarrando em todos os meus muros, gritando com todos os meus brios, me quero assim, vivo, ardendo, queimando, encandescendo, triscando em almas, comendo os corpos, somando e diminuindo, tirando e devolvendo ao mundo, abraçando árvores e sentindo meu corpo se misturar a suas velhas cascas, ficar descalço e enfiar o pé na lama, nu debaixo da chuva, esperando o exato momento que o portal pra terra do nunca se abra novamente.
tudo o que eu fui, mora mais dentro do meu peito do que tudo que sou, o que eu ainda serei se abestalha com o passar dos dias sem ter a menor noção do "time" de entrada nessa história escrita por '"seilaquem". eu quero tudo, cada gole, cada pedaço, cada consequência, cada gemido, de prazer ou de dor, quero todas as gotas, de orvalho, de lágrimas, de sangue, de colírio, de veneno, quero os espinhos, agarrá-los com as mãos, furar neles, meus dedos, e poder enxergar depois a beleza da rosa, efêmera, soberba e inútil.
gosto de me despir, de deixar-me ser visto, por vezes escondo algumas coisas, acho-as feias demais para serem vistas, e em algum momento foi determinado que só o belo poderia ser visto, e logo, antes que ele padeça. por que nada permanece inerte, congelado, imutável, condenado ao lamento da mesmice "do pra sempre assim", a vida é esse turbilhão, esse jorro amontoado de atropelos e acontecimentos que rasga a gente de dentro pra fora, e nos faz viver morrendo um pouco a cada dia.
maurício backer spinelli. completando mais um ciclo cronológico que o tempo nos impõe!