deu no jornal nacional que a expectativa de vida aumentou, que a terceira idade vive feliz, faz sexo e que muitos ainda jogam o pernão. A vida se estendeu em suas atividades, podemos terminá-la fazendo um cruzeiro ao redor do mundo antes que os tsunamis detonem os oceanos e as plascas téctônicas sejam usadas na estrada pra sinalizar o fim dos tempos. As escolhas seguem se costurando a outras e aos outros, numa dança descompasada.Encontros e desencontros, fracassos, vitórias e muita coragem preenchem o nosso "pra frente é que se anda", abrimos gavetas, quebramos portas, "chupamos o pau da barraca", e vamos indo tentando caber no espaço que diminue dia-a-dia.
e pra que isso tudo? de onde viemos? pra que estamos vivos? será que Deus existe? vamos morrer sozinhos? perguntas clichês e que fazem arrepiar cada cilio, inclusive os postiços. aprendemos a conviver com todo tipo de mazela, encontramos flores no meio das pedras, pessoas que sobrevivem há duas semanas embaixo dos escombros e aos poucos começamos a olhar pro lado de uma forma mais humana, mas ainda assim, por medo, medo de não ser olhado, de não ser notado, de não ser salvo e acabar morrendo afogado na décima quinta valeta da avenida principal.
um vizinho de heitor precisou de doação de sangue, nos mobilizamos todos pra mandar centenas de e-mails e conseguir a quantidade de braços necessários pra serem furados, alguem me disse que ele ia fazer um tratamento, outro falou em cirurgia, fernanda falou que era anemia, e só hoje descobrimos por dona severina que ele não tinha suportado e morrera de leucemia.Poxa ! mas fizemos tanto, (?) será que Deus não viu? ele era tão bom.... ( ninguem tem defeito depois que morre...!) temos que mandar uma coroa de flores, ao menos sabemos o nome dele, quem ficou responsável pela lista de nomes dos infelizes do Haiti? será que houve tempo pra saber todos os nomes do 11 de setembro? e da lista de pessoas que hoje foram doar sangue pro banco de médula? quantas pessoas podemos salvar? quem se lembrará da minha vida já que eu não sou famoso, não tive um filho e nem consegui escrever meu livro?
hoje o plano autorizou a cirurgia de bruno, depois de quase um mês de tanta burocracia, de tantos laudos, de tanta pericia, consultas, exames, fístulas, noites insones e tudo quanto é desculpa pra adiar esse procedimento precedido por um peseudo-erro-médico ( sim pseudo! por que os médicos tem ética nesse país, assim como os políticos, candidatos ao estrelato e mais uma lista bizarra de seres medonhos). Ao menos ele não terá que se render ao nosso sistema de saúde pública, imagina esse último mês enfrentando a UPA? será que seria removido como nosso ilustríssimo Luiz da Silva para o melhor hospital da capital?
e no mundo que construímos, ou que estamos terminando de destruir, vale aquele que tem algo pra dar, aquele que tem posição, status e mais uma pá de dinheiro enfiado na meia. Os valores morais estão fora de moda, dignidade, amor ao próximo e transparência é produto escasso no "mercado livre", quem sabe no "submarino" ainda exista alguma promoção? e no fim... não levamos nada, não somos nada, nada nos pertence, nem o segundo seguinte, nem o planeta que herdamos, nem mesmo o amor que nos foi sacrificado numa cruz, jogamos fora a mão, o ombro, o abraço, os olhos nos olhos e a vergonha na cara, quem quiser que acorde, nem que seja pra assistir ao fim de camarote, pois talvez já seja tarde demais e as trÊs bolsas de sangue que sobraram não sirvam a ninguem, pois estão contaminadas.
maurício backer spinelli em Fevereiro de 2010.