sábado, 8 de agosto de 2009
a volta
pedro chegou de viagem as pressas, já tinha marcado essa volta algumas vezes mas sempre algo acontecia pra impedir o seu retorno. dessa vez ele não avisou a ninguém, por que não queria criar tantas expectativas, por hora já bastavam as que ele vinha trazendo em sua frasqueira. Sentia um aperto no peito, uma satisfação estranha e suspensa em voltar, como se a vida tivesse rebubinado os sentidos, rebubinado? nem sabia mais se algumas palavras ainda eram usadas, o tempo estava confuso, de onde vinha o inverno era pavoroso, deu de cara com um céu azul e um sol que cegava.
quando abriu a porta, esbarrou em seu sorriso no espelho, as plantas, a casa, a fonte e abagunça do quarto dos fundos... tudo estava no lugar, apenas a sua espera, com certeza essas foram as únicas coisas que resolveram lhe esperar, o mundo tinha rodado algumas vezes, e ele precisava o quanto antes ir pra nova estação, antes que o trem das 11:11 passasse.
sentiu o cheiro dos lençois, do feijão, viu outras marcas que a vida lhe deixára, colocou a música no ultimo volume, acreditando que isso calaria a voz do silêncio. ainda existiam as grades, e os armários do seu antigo mundo estavam todos com portas, chaves e amontoado de pesos desnecessários ao novo caminho.
virou pra tonca e disse:
- preciso correr contra o tempo.
- você vem fazendo isso a tanto tempo pedro
- alguns costumes persistem
- insista em deixá-los, os costumes, os maus hábitos.
- mas ainda gosto de sentir o vento do abismo.
- isso faz parte de sua natureza, não tem como mudar.
é, pedro já sabia que algumas coisas simplesmentes não mudam, o seu sorriso agora tinha um outro sentido, um novo sabor, decidiu arrombar os armários e jogar fora as chaves, mas decidiu deixar ao menos a porta do castelo intacta, mandou cavar um fosso em volta dele, e além do fosso, reforçou a porta e mandou aumentar as janelas, amanhã começará a ampliar o seu jardim, descobriu nessa viagem algumas espécimes muito raras e que precisam ser cultivadas, só não sabe ainda como elas vão se portar com o clima local.
o dia tinha sido longo, mas uma semana passou muito rápido, a mais rápida de meses, resolveu dormir cedo e encher as linhas de sua agenda, resolveu assumir mais riscos, o tempo e todos os desafios, percebeu que o relógio lhe serve mais como adereço e que o tempo é um cavalo selvagem que passa correndo no prado apenas uma única vez.
maurício backer spinelli - no mês que seria dos ventos.
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